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28 de agosto de 2011


"Eu nunca vi um anjo.
Olhos que vêem anjos são olhos especiais, dádivas dos deuses, não são todos que os possuem.
Eu não sou um deles.
Mas os deuses me dotaram de um outro órgão para sentir os anjos: o nariz.
O nariz é o meu órgão angelical.
Eu não vejo anjos. Eu cheiro anjos.
Para mim os anjos são seres nasais.
Eles se me revelam sob a forma de perfumes.
Vou andando solidamente pela rua, imersa em meus pensamentos comuns.
Repentinamente, uma súbita fragrância enche a minha alma.
Fico leve, perco a solidez, crescem-me asas nas costas e sou instantaneamente transportado para um não-sei-lá-onde onde fui feliz.
Aquela felicidade perdida me é devolvida.
Como o acontecido não foi resultado de coisa que eu tenha feito, não acho descabido imaginar que o responsável tenha sido um anjo perfumado, meu amigo..."

(Rubem Braga)

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