"Sopro
de energia, dose de guaraná em pó, beijo na boca...de agora em diante, a
partir deste ano, fica decretado que todo mês de Julho - mas pode ser
junho, agosto, pode ser sempre - quando as almas andarem escuras e as
pessoas não se amarem mais, haverá dez ou quinze dias de sol (dependendo
do peso da barra a ser aliviado) e luz para que todos enlouqueçam um
pouco de prazer. Se possível, que esses dias coincidam com a lua cheia, e
se possível ainda, em trânsito por signos doces como Câncer, musicais
como Libra, afetuosos como Touro ou divertidos como Sagitário. Nesse
período, ficam intimados os humanos a interromper as dores, a esquecer
as mágoas, a adiar as dívidas, a perdoar os outros. Ficam intimados os
humanos a se tornar suaves, a cantarolar quaisquer canções, mesmo as
tolas...
Fica autorizado aos humanos, relaxar um pouco nas suas obrigações. A se permitir ser mais complacente com os outro
s
e consigo próprio. Certa preguiça fica autorizada, mas não a ponto de o
sono ultrapassar as manhãs, porque grandes energias estarão
concentradas nos primeiros raios de sol. Abusar um pouco de cerveja ou
de vinho é permitido. E dos sorvetes, dos morangos com chantilli.
Aconselhável ver e rever qualquer filme do Woody Allen, e tudo, tudo o
que for mais dia que noite, mais açúcar que sal, mais azul clarinho, que
roxo ou preto.
Permitidas as paixões devastadoras, os suspiros
amorosos, permitidos os amassos, as cantadas, as paqueras e todas as
suas consequências - desde que gostosas. Aconselhável vadiar pelas
praças, respirar o cheiro de pipoca das esquinas, olhar vitrines,
acreditar em Deus, sorrir para desconhecidos, dar interurbanos
repentinos, andar de bicicleta, pular corda, girar o bambolê. Tudo isso e
muito mais será permitido e recomendável nesses dias em que palavras
como crise, inflação e recessão serão sumariamente riscadas dos
dicionários.
Será assim, de agora em diante. Que fique registrado em ata. Que se cumpra, que dure fora e dentro de cada um. Amém."
Caio F. em 22/07/1987